Benito Mussolini decorou Roma com uma cruz inimiga da Cruz de Cristo
Video original by Guelfo Negro: https://youtu.be/6uSIZJ8gUgM?si=lc0hWIDBWmq5NU8O
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Muitos "fascistas clericais" adoram lembrar que Benito Mussolini decorou os tribunais, salas de aula e quartos de hospitais na Itália com crucifixos, mas se esquecem que quando Adolf Hitler visitou Roma em Maio de 1938, ele a decorou com suásticas, o que ofendeu o Papa Pio XI. Em meados de Janeiro, o Cardeal Eugenio Pacelli (futuro Pio XII), que era Secretário de Estado da Santa Sé, comentou com François Charles Roux, embaixador francês na Santa Sé, que o Vaticano não havia recebido nenhum pedido por parte do governo alemão para marcar qualquer reunião. Monsenhor Domenico Tardini, Vice-Secretário de Estado da Santa Sé, contou para Charles Roux, em 18 de Janeiro, que caso Hitler marcasse uma audiência com o Papa, ele não via de que forma Pio XI pudesse recusar a vê-lo. Bonfacio Pignatti, embaixador italiano na Santa Sé, relatou pro ministério das relações exteriores do Reino da Itália em 21 de Janeiro, que Pio XI foi advertido por um relatório de que os americanos ficariam indignados se ele recebesse Hitler no Vaticano. Mas em 24 de Janeiro, Pignatti havia reiterado pro ministério de relações exteriores do Reino da Itália sua impressão de que se Hitler solicitasse uma audiência com o Papa, o Vaticano não teria dificuldades de providenciá-la. Charles Roux numa carta para Yvon Delbos, ministro das relações exteriores da Terceira República Francesa em 26 de Janeiro relatou que estava convencido de que, se Hitler quisesse ir, Pio XI o receberia: "Uma consideração prevalece sobre todas as outras da Santa Sé, que é a de não se fazer nada para piorar a situação dando ao governo nacional-socialista o pretexto que os extremistas parecem estar procurando". Embora Mussolini quisesse que Hitler visitasse Pio XI, este se recusou a seguir a tradição dos chefes de Estado que mantém relações com a Santa Sé de visitar o Papa quando visitam Roma. Konstantin von Neurath, ministro das relações exteriores do Terceiro Reich, ficou numa posição desconfortável ao explicar porque Hitler não visitaria Pio XI. Em 14 de Fevereiro, Joachim von Ribbentrop, novo ministro das relações exteriores do Terceiro Reich, justificou a recusa de Hitler de visitar o Papa para Hans Georg von Mackensen, embaixador italiano em Roma, sugerindo que Hitler estava indo a Roma a convite de Vítor Emanuel III, Rei da Itália, alegando que Hitler: "Não tinha motivo para visitar outros soberanos ou territórios não italianos nessa ocasião". Ribbentrop aconselhou Mackensen nessa conversa a não usar a desculpa que outros estavam sugerindo de que Hitler não visitaria Pio XI porque não recebeu um convite do Vaticano: "Parece-nos desaconselhável chamar atenção para o fato de que, no fim das contas, nenhum convite até então tenha vindo por envolver o risco de que o Vaticano talvez faça um convite". Em 23 de Março, o jornal Il Messagero publicou um tipo de manual do governo Mussolini de como Hitler deveria ser recebido em Roma na sua visita de Estado: "Para que o evento seja digno da cidade, é conveniente que os proprietários de edifícios localizados ao longo da rota oficial (Via Ostiense, via delle Piramidi, viale Aventino, via dei Trionfi, via dell'Impero, via 4 Novembre, via Natsionale , via 24 Maggio, Corso Umberto, Corso Vittorio Emanuele, Via della Conciliazione), elaborem os projetos de decoração dos edifícios". Após essa publicação do Il Messagero, o Cardeal Pacelli ligou para Pignatti para reclamar da Via della Conciliazione estar incluída na rota que Hitler iria percorrer durante sua visita, como nos informa uma nota anônima. Em 24 de Março, o Cardeal Pacelli emitiu uma ordem específica, na qual mandou dizer para Mussolini que trazer Hitler na Via della Conciliatsione repleta de suásticas seria algo que desagradaria muito Pio XI. O cardeal Pacelli perguntou: "se a apoteose levada a esses excessos de um inimigo tão confessado não é contrária ao primeiro artigo da concordata". De fato, Mussolini estava violando o primeiro artigo da concordata de Latrão, que determinava: "Tendo em conta o caráter sagrado da Cidade Eterna, sede episcopal do Sumo Pontífice, centro do mundo católico e destino das peregrinações, o Governo italiano terá o cuidado de evitar em Roma tudo o que possa estar em conflito com esse caráter". De acordo com o Cardeal Pacelli, querer aproximar Hitler do Vaticano era algo que irritava o Papa. Pignatti escreveu uma carta para Galeazzo Ciano, ministro das relações exteriores do Reino da Itália, em 7 de Abril, para lhe pedir que a Via della Conciliazione fosse retirada do itinerário da rota que Hitler iria percorrer na sua visita a Roma, explicando que Pio XI condenava Hitler como: "O maior inimigo de Cristo e da Igreja nos tempos modernos". Então, Ciano concordou em retirar a Via della Conciliazione do itinerário da rota que Hitler iria percorrer em Roma. Pinhatti escreveu numa nota secreta para o Cardeal Pacelli: "Ao traçar os itinerários que o Führer deverá seguir durante a estadia em Roma, foi cuidadosamente evitada a passagem pela Via della Conciliatsione e pela Piatsa San Pietro". Porém, Pignatti acrescentou que Hitler passará necessariamente pela Viale Vaticano, uma vez que não existe outra estrada de acesso conveniente ao local onde Hitler terá que se dirigir. Mas Pinhatti prometeu que as decorações dos edifícios privados, que o governo ordenou que fossem colocadas na Via della Conciliazione, evitariam qualquer exagero que pudesse ser desagradável para a Santa Sé. Será que o Papa aceitou está segunda opção? Uma observação manuscrita do Cardeal Pacelli esclarece isso: "O Santo Padre também deplora esta passagem. Nada para escrever". Em 21 de Abril, o Cardeal Pacelli emitiu uma ordem pro episcopado italiano: "Se, por ocasião da visita do chanceler à Itália, os Excelentíssimos Bispos receberem convites para participar das cerimônias em sua homenagem, o Santo Padre deseja que eles se abstenham de aceitá-los". Poucos dias antes da chegada de Hitler, em 24 de Abril, Pio XI deu instruções precisas ao núncio apostólico de Roma Francesco Borgongini Duca. Nelas, se mandava comunicar o governo Mussolini que "o homem, para quem tantas celebrações estão sendo preparadas, é hoje o maior perseguidor da Igreja". As instruções foram cumpridas quatro dias depois, quando o núncio apostólico de Roma Borgongini Duca foi recebido por Guido Buffarini Guidi, subsecretário de estado do ministério do interior do governo Mussolini, que perguntou se era verdade que o Papa estava atrasando a sua partida para o Castel Gandolfo pra não fechar a porta a Hitler. O núncio apostólico de Roma Borgongini respondeu: "Estou convencido que, se Hitler solicitasse uma audiência da maneira certa, o Papa poderia voltar de Castel para recebê-lo". Buffarini Guidi perguntou: "Quais são esses caminhos adequados?" Borgongini respondeu: "Certamente o Papa não se contetaria em recebê-lo só para ouvir: bom dia ou boa tarde. Mas seria necessário, penso eu, como condição preliminar que o Führer fizesse uma declaração pública de mudança de rumo e, claro, de acordo com um texto a ser pré-estabelecido". No final de Abril, o governo Mussolini deu a notícia oficial da chegada de Hitler em Roma. Lemos numa nota anônima da Secretaria de Estado da Santa Sé o seguinte: "Eu disse ao L'Osservatore Romano para não publicar está notícia e permanecer em silêncio sobre a chegada de Hitler".
Três dias antes da chegada de Hitler em Roma, Pio XI se mudou do Vaticano pro Castel Gandolfo, alegando que o ar de Roma o feria. Mas antes de se mudar pro Castel Gandolfo, Pio XI apagou as luzes do Vaticano, fechou as venezianas das janelas do Palácio Apostólico, fechou os Museus Vaticanos e bloqueou a estrada que dá acesso a Basílica de São Pedro. Pio XI também proibiu o núncio apostólico de Roma de assistir as recepções a Hitler durante sua visita. O jornal L'Osservatore Romano do Vaticano noticiou sobre a saída do Papa de Roma: "O Papa partiu para Castel Gandolfo. O ar dos Castelos Romanos faz muito bem à saúde". De acordo com a jornalista Mary Ball Martinez, foi o Cardeal Pacelli que transferiu Pio XI do Vaticano pro Castel Gandolfo, com medo que ele recebesse Hitler durante sua visita a Roma. Mary Ball Martinez trabalhou como jornalista no corpo de imprensa do Vaticano por 25 anos, de 1973 à 1988, reportando pros jornais The American Spectator, National Review e The Wanderer. Ela cobriu 5 sínodos, 2 conclaves, 2 eleições papais e 2 funerais papais. Também investigou o Arquivo Apostólico do Vaticano, tendo acesso aos arquivos que foram abertos para exonerar o Papa Pio XII das acusações de antissemitismo. Portanto, seu testemunho deve ser levado em conta. Após saber que Hitler expressou seu desejo de ver os afrescos de Michelangelo, o Cardeal Pacelli trancou a Capela Sistina. As autoridades italianas que acompanhavam Hitler ficaram constrangidas quando, sem aviso prévio, foram confrontadas por uma placa onde se lia "fechada para reparações". Diego von Bergen, embaixador alemão na Santa Sé, relatou para Ernst von Weizsäcker, secretário de estado do ministério das relações exteriores do Terceiro Reich, em 18 de Maio, que o Cardeal Pacelli sondou a respeito de uma visita de Hitler ao Papa, caso Hitler fizesse uma declaração de acordo a respeito do tratamento dispensado a Igreja Católica na Alemanha. Bergen também relatou para Weizsäcker: "O papa definitivamente tem contado com a visita do Führer. Mas, para as diversas sondagens, manifesto-me em concordância com minhas instruções e não deixo margem para dúvidas de que uma visita está fora de questão". Bergen escreveu para Weizsäcker em 23 de Maio que Pio XI esperava que Hitler o visitasse e teve essa esperança até o último momento. Pio XI também foi aconselhado pelo Cardeal Alfredo Ottaviani a se mudar do Vaticano pro Castel Gandolfo durante a visita de Hitler a Roma. Diante dos protestos da Santa Sé, o governo Mussolini desistiu de instalar holofotes para iluminar a Praça de São Pedro durante a visita de Hitler. Em 3 de Maio, Hitler chegou a Roma. Nesse dia, Pio XI publicou um Syllabus Antirracista, feito por estudiosos católicos, com base num projeto de condenação ao racismo elaborado pelo Santo Ofício em 1936, que foi enviado para todos os seminários. Lá do Castel Gandolfo, Pio XI reclamou para um grupo de recém-casados de Mussolini ter decorado Roma com suásticas para receber Hitler: "Estão acontecendo coisas tristes, muito tristes, tanto junto de nós como muito longe. Por certo, figura entre elas a aparição, no dia da Santa Cruz, de outra cruz que não é em verdade a de Cristo. Não deveriam ter sido içadas em Roma. Estavam fora de lugar e de oportunidade". Isso irritou Mussolini, que no seu jornal Il Popolo d'Italia, órgão do Partido Nacional Fascista, em 8 de Maio, respondeu: "Não se deve falar da Cruz como de uma arma, porque o Papa poderia encontrar-se em companhia de usurários, maçons ou bolchevistas, sem possibilidade de empregar esse emblema para expulsá-los dos templos de Deus". Plínio Corrêa de Oliveira no jornal Legionário da arquidiocese de São Paulo em 10 de Julho refutou essa blasfêmia de Mussolini no Il Popolo d'Italia: "Há no mundo milhões de católicos que sabem não ser necessário curvar-se a um Hitler ou a um Mussolini para serem cristãos; é preciso além disso ter conceitos mais gerais e compreender que há no mundo gente honrada fora os fascistas e racistas. Engana-se o Il Popolo d'Italia achando que o poder sobrenatural da Cruz de Cristo não é suficiente para combater o poder armado de usurários, bolchevistas, etc. Um dia Napoleão I ao ter notícia da sua excomunhão pôs-se a rir perguntando: 'Acaso fará isto caírem as armas das mãos de meus soldados?'. Caíram estas e Napoleão também. A mentalidade do periodista é representativa da de muitos homens: equipara o comunismo e a Igreja como forças naturais; não compreendem a índole de um nem de outro e pensa que um paganismo materialista só pode ser vencido por outro paganismo materialista. Erro imenso! Quando nós católicos estabelecemos o dilema 'Roma ou Moscou', não pensamos na Roma fascista com seu poder natural, mas na Roma de Pedro, com seu poder sobrenatural, e para nós não vale mais Rosenberg que Lênin". Pignatti na sua carta para Ciano em 5 de Maio observou: "É evidente que o Papa sentiu a necessidade de aliviar a pressão e, por causa do seu temperamento, pode-se até dizer que o fez de maneira relativamente suave. Mas será que vai parar por aí? Duvido muito". Em 4 de Maio, Hitler e Mussolini visitaram o panteão, um templo dedicado aos deuses do paganismo romano. Hitler reivindicou alguns minutos para ficar sozinho meditando e admirando a cúpula do panteão. Notem que Hitler se recusou a visitar o Vaticano, mas visitou o panteão, demonstrando seu ódio contra o cristianismo e seu amor pelo paganismo. Em 7 de Maio, Hitler e Mussolini visitaram a Galeria Borghese, onde eles viram a estátua de Vênus, uma deusa dos pagãos romanos. Nada se comentou no L'Osservatore Romano sobre a visita de Hitler em Roma. Numa nota da revista La Civiltà Cattolica onde se relatava a visita de Hitler, se reclamava de que a grandiosidade dos festejos oficiais não bastava para esconder o desapontamento dos católicos pelo fato de Hitler, que governava um país com mais de 27 milhões de católicos tivesse viajado a Roma, mas sem prestar homenagem ao Papa. O resultado, na opinião da revista, foi uma grave e escancarada ausência que deslustrou muito a visita. Plínio Correa de Oliveira no Legionário em 15 de Maio noticiou: "O Legionário acolheu com ardente entusiasmo a notícia de que o Reverendíssimo Monsenhor Mac Dowell, Vigário do Engenho Velho do Rio Janeiro, promoveu na sua Matriz um solene ato de desagravo a Sua Santidade, o Papa Pio XI, ofendido pela ostentação da cruz gamada na Capital da Cristandade. Sob dois aspectos, esse fato merece nosso franco aplauso. Em primeiro lugar, porque constitui uma prova de filial união à Cátedra infalível da Verdade, e, em segundo lugar, porque é um ato daquele belo e vigoroso destemor tão próprio ao espírito da Igreja e que, em linguagem católica, se chama liberdade evangélica". Plínio Correa de Oliveira no Legionário em 26 de Junho noticiou: "Na imprensa fascista houve quem se preocupasse com a descoberta na Igreja do Convento dos Menores Franciscanos, em Amalfi, de vários quadros religiosos contendo desenhada a cruz gamada. Esses quadros datam do tempo de São Francisco de Assis. Esse fato constituiu pretexto para atacar o Sumo Pontífice, afirmando que a cruz gamada é cristã, ao contrário do que disse Sua Santidade quando da visita do senhor Hitler. Parece que voltamos novamente ao apogeu da propaganda anticlerical do século XIX, quando os adversários do catolicismo diziam as maiores sandices e inverdades para atacar a Igreja. O Santo Padre durante a visita do chanceler Hitler, lamentou que no dia da Santa Cruz se elevasse em Roma uma outra cruz que não a de Cristo. A se julgar, portanto, pelos jornais italianos, uma única conclusão se imporia: é que São Francisco de Assis era hitlerista. O ridículo é patente". Pio XI na sua alocução ao Sacro Colégio em 24 de Dezembro voltou a reclamar de Mussolini por ele ter decorado Roma com suásticas para receber Hitler: "Pensando na recente apoteose nesta mesma Roma, preparada para uma cruz inimiga da Cruz de Cristo, nesta vulnerabilidade da Concordata e nas outras coisas mencionadas acima, não parecia supérfluo também para Nós esperar pelo menos por Nosso cabelo grisalho; em vez disso, eles queriam ir mais longe aproximadamente". Mussolini numa reunião com Ciano e Pignatti em 2 de Janeiro de 1939 reclamou da alocução Con grande profondo de Pio XI: "Não queremos um conflito, mas não recuaremos diante de ninguém, e nesse caso vamos despertar o adormecido rancor anticlerical". Mussolini preparou uma nota de advertência para Pignatti entregar pro Cardeal Pacelli. Pignatti apresentou a nota de advertência de Mussolini pro Cardeal Pacelli em 3 de Janeiro. Pignatti também alertou o Cardeal Pacelli que as relações da Itália com a Santa Sé passavam por um momento delicado. Se o Vaticano não tivesse cuidado, advertiu ele, acabaria se metendo em encrenca.
REFERÊNCIAS: David I. Kertzer, O papa e Mussolini: A conexão secreta entre Pio XI e a ascensão do fascismo na Europa, Intrínseca, 2017, p. 295-297. R. J. B. Bosworth, Mussolini a biografia definitiva, Globo Livros, 2023, p. 395. Mary Ball Martinez, The Undermining of the Catholic Church, p. 68. Plínio Corrêa de Oliveira, Legionário, Nº 295, 8 de Maio de 1938. Plínio Corrêa de Oliveira, Legionário, Nº 304, 10 de Julho de 1938. Plínio Corrêa de Oliveira, Legionário, Nº 296, 15 de Maio de 1938. Plínio Corrêa de Oliveira, Legionário, Nº 302, 26 de Junho de 1938.
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