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O Canto do Sociopata: Diplomacia para Idiotas (Jeffrey Nyquist – 07/04/2025)

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gepubliceerd op 08 Apr 2025 / In anders

https://jrnyquist.blog/2025/04..../07/the-sociopaths-c

O Canto do Sociopata: Diplomacia para Idiotas (Jeffrey Nyquist – 07/04/2025)

“…ser amigável no mundo foi o que nos colocou nessa confusão. Não estamos no ensino médio. Não precisamos de amigos. Todo país coloca seus interesses em primeiro lugar, e quando nossos interesses se alinham, podemos fazer negócios. E quando não se alinham, paciência. Se precisarmos queimar algumas pontes com a Dinamarca para tomar a Groenlândia, somos adultos. Lançamos bombas atômicas sobre o Japão e agora eles são nosso principal aliado no Pacífico. Talvez precisemos queimar uma ponte para construir a nova e bela ponte para a próxima geração. Os Estados Unidos não estão algemados pela história. Trump sabe do que precisamos.”
— Jesse Watters
Como se vê na citação acima, a celebridade da Fox News Jesse Watters nos deu uma aula de estratégia política. Ele falou sobre os Estados Unidos “tomarem” a Groenlândia da Dinamarca. Anexar o território de um pequeno aliado seria, segundo ele, uma “bela” ponte para a próxima geração. Jesse diz: “Se precisarmos queimar algumas pontes… para tomar a Groenlândia, somos adultos.” Como todo mundo sabe, adultos fazem o que quiserem com crianças. Comparada à política de Jesse, O Príncipe de Maquiavel é um tratado moralista. Com toda a sua malícia, Maquiavel jamais defendeu tomar territórios de aliados. E por que Watters lembra seus ouvintes de que “não estamos no ensino médio”? Seria porque voltamos à escola primária, onde o valentão rouba o lanche do colega menor?
Claro, o “não roubarás” não se aplica a adultos ou grandes países, porque adultos e grandes países fazem o que for do seu melhor “interesse”, certo? Podem invadir países pequenos como a Geórgia, ou países médios como a Ucrânia. Ou podem tomar ilhas como a Groenlândia. O queridinho da Fox News acha que precisamos da Groenlândia por motivos de segurança nacional. Mas já temos direitos de uso de bases ali por meio da OTAN. Por que então tomá-la? Seria porque Trump pretende sair da OTAN e, com isso, perderíamos tais direitos?
Um conservador à moda antiga certamente classificaria o governo Trump e Watters como idiotas morais. O que falta aos idiotas morais é imaginação moral — a faculdade de perceber a verdade ética. Sem imaginação moral, vivemos como animais, de instante em instante, incapazes de distinguir ordem de desordem, justiça de injustiça, ou o verdadeiro interesse nacional do suicídio nacional. Poder-se-ia argumentar que a idiotia moral é uma forma de loucura.
Em 1801, Philippe Pinel escreveu Um Tratado sobre a Loucura, onde descreveu uma condição que chamou de manie sans délire, algo como “loucura sem delírio”. Alguns anos depois, o médico inglês J.C. Pritchard usou o termo “insanidade moral” para essa condição, dizendo tratar-se de “uma forma de distúrbio moral em que as faculdades intelectuais [permanecem intactas], enquanto a desordem se manifesta principalmente ou unicamente nos sentimentos, temperamento ou hábitos…”
Em 1941, o psiquiatra americano Hervey Cleckley publicou A Máscara da Sanidade, descrevendo pela primeira vez a personalidade psicopática como possuindo “charme superficial, ausência de ansiedade ou culpa, falta de confiabilidade ou honestidade, egocentrismo, incapacidade de formar relações íntimas duradouras, fracasso em aprender com punições, pobreza emocional, ausência de percepção do impacto do próprio comportamento e incapacidade de planejar o futuro.” À medida que a psiquiatria foi mudando, os principais especialistas substituíram o termo psicopata por sociopata. Mais tarde ainda, surgiu a expressão personalidade antissocial. Parece que qualquer termo é preferível a chamar alguém de mau ou “moralmente insano”.
Essa evolução da linguagem, afastando-se de categorias morais para diagnósticos médicos, é claramente uma tentativa de negar a realidade do mal. No caso de Jesse Watters e outros com personalidades semelhantes, o termo “insanidade moral”, cunhado por Philippe Pinel, é claramente mais adequado do que as tipologias clínicas modernas — pois define melhor o problema, com maior precisão descritiva. Watters não é doente mental. Ele é perverso.
Na mesma linha, J.D. Vance aterrissou na Groenlândia há duas semanas. É muito parecido com Jesse Watters, a julgar por suas declarações. Em discurso a militares americanos na Groenlândia, Vance afirmou: “Nossa mensagem à Dinamarca é muito simples: vocês não têm feito um bom trabalho com o povo da Groenlândia. Têm investido pouco nas pessoas da Groenlândia e pouco na arquitetura de segurança desse território incrível e belo, cheio de pessoas extraordinárias. Isso precisa mudar…” O vice-presidente Vance incentivou a Groenlândia a cortar laços com a Dinamarca, abrindo caminho para sua anexação pelos Estados Unidos.
O vice-presidente americano argumentou que a posse da Groenlândia é essencial para a defesa dos Estados Unidos contra ameaças da Rússia e da China (o que surpreende, já que o governo vinha afirmando que a ameaça vinha da China, e não da Rússia). Segundo Vance, a Dinamarca não defende adequadamente a Groenlândia. Portanto, os Estados Unidos deveriam possuir a ilha. Somente os Estados Unidos poderiam oferecer a defesa necessária. “Esperamos que eles [os groenlandeses] escolham fazer parceria com os Estados Unidos, porque somos a única nação na Terra que respeitará sua soberania e respeitará sua segurança.”
Falar, em território dinamarquês, a favor da anexação americana desse mesmo território não é exatamente respeitar a soberania da Dinamarca. Ainda assim, Vance afirma que os Estados Unidos podem ser confiáveis no respeito à soberania da Groenlândia. Como o vice-presidente pode ser um representante legítimo daqueles que respeitam a soberania de outros países, ao mesmo tempo em que defende a anexação da Groenlândia? Esse tipo de postura tem se tornado padrão para Vance, que recentemente exaltou as virtudes da “diplomacia” depois de interromper de forma grosseira o chefe de Estado da Ucrânia — a quem, logo em seguida, acusou de ingratidão. Em duas grandes questões de política externa, o vice-presidente se apresenta como uma contradição ambulante. É um diplomata sem diplomacia, que afirma respeitar soberanias ao mesmo tempo em que ameaça a soberania de aliados.
O ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Løkke Rasmussen, declarou que a Dinamarca está aberta a críticas, “mas não aprecia o tom com que elas estão sendo feitas.” A esse comentário, somou-se o pronunciamento da primeira-ministra dinamarquesa: “Durante muitos anos estivemos lado a lado com os americanos em situações muito difíceis. Por isso, não é correto da parte do vice-presidente se referir à Dinamarca dessa maneira.”
O que se pode concluir diante de tantas inconsistências, tão sistemáticas, que compõem grande parte da política externa desta administração? Há algo inegavelmente caótico em Donald Trump e em seu vice-presidente. Há algo profundamente perturbador em seu uso das palavras. Suas políticas propostas implicam mudanças radicais no status quo. Com que objetivo? Como formuladores de políticas públicas, Trump e Vance parecem confusos. Suas políticas não fazem sentido.
No livro A Mente Conservadora, de Russell Kirk, somos lembrados de que a lei da mudança deve ser respeitada. No entanto, o que vemos aqui são mudanças propostas com altíssimo custo político, que são totalmente desnecessárias. Mais do que isso: são mudanças radicais, com potencial de causar danos a antigos interesses e antigos aliados. Os Estados Unidos têm sido o defensor do mundo livre. Trump, ao que tudo indica, gostaria de abandonar a OTAN — independentemente do que seus diplomatas estejam dizendo no momento. (Essa é a única razão pela qual ele está fazendo tanto barulho em torno da Groenlândia.) Não se pode simplesmente abandonar três dezenas de países à própria sorte porque se cansou de defendê-los. Isso é imoral e estúpido. Os aliados dos Estados Unidos, por mais frágeis militarmente que sejam, funcionam como um gatilho e uma barreira diante de nossos inimigos. Eles permitem que a linha defensiva americana se projete para fora, tornando o território dos EUA mais seguro, ao mesmo tempo em que posicionam nossas forças mais próximas dos adversários (ou seja, da Rússia).
Além disso, esses países são economicamente poderosos e sustentam o dólar americano como principal moeda de comércio internacional, criando uma demanda constante por dólares no exterior. Isso tem permitido aos Estados Unidos exportar sua inflação, o que ajuda a sustentar a economia nacional. Se os EUA pararem repentinamente de defender a Europa, o Japão, etc., o dólar deixará de contar com o apoio desses parceiros. Nossa moeda poderá perder grande parte de seu valor. Ademais, as tarifas comerciais impostas por Trump também tendem a contribuir para a desvalorização do dólar. Mudanças econômicas e estratégicas tão abruptas, implementadas com tamanha violência, provavelmente levariam a um colapso.
No que diz respeito à sua política, Trump está fazendo exatamente o que a esquerda sempre quis fazer. Mas nem mesmo a esquerda — que certamente é insana — foi insana o bastante para ameaçar a OTAN. Pelo contrário, tem tido a prudência de deixar que a direita cometa suicídio por meio da política externa. Os democratas já causaram muitos estragos, mas compreendem o que acontecerá se a Rússia dominar a Europa. O Partido Republicano, hoje, está menos consciente do perigo vindo da Rússia do que os próprios democratas. Se a OTAN for abandonada ou a Ucrânia cair, a culpa recairá sobre os republicanos.
Pense no perigo em que estamos. Temos uma liderança republicana semi-analfabeta e “jornalistas” da Fox News defendendo a anexação de território dinamarquês. Temos um vice-presidente incapaz de perceber o grotesco das contradições em seu próprio discurso. Essas pessoas operam no que Eric Voegelin chamou de “nível vulgariano” — o nível da fala demagógica. Devem seus cargos a uma república que já decaiu em uma oclocracia (isto é, um sistema de governo pela turba). É nisso que os Estados Unidos se tornaram. Cada mudança promovida por esses palhaços será autodestrutiva, porque eles simplesmente não sabem o que estão fazendo. Não conseguem distinguir amigos de inimigos, não sabem usar a linguagem sem se contradizer e não possuem qualquer bússola moral.
Em 1984, o desertor da KGB Anatoliy Golitsyn alertou sobre o plano futuro de Moscou para afastar os Estados Unidos da Europa. Escreveu o seguinte sob o título “solidariedade ideológica”:
“As diferenças entre os conservadores americanos e os social-democratas europeus em relação ao capitalismo não devem ser permitidas a ponto de enfraquecer a aliança atlântica. O socialismo democrático está agora firmemente enraizado na Europa Ocidental. Seus ideais econômicos apresentam certos traços comuns com o sistema comunista e diferem marcadamente dos ideais econômicos americanos. Mas, assim como os americanos, os social-democratas europeus consideram as liberdades democráticas como sagradas; quando confrontados com os comunistas, os dois são aliados naturais.”
Na semana retrasada, durante um programa de rádio, fui repreendido por um ouvinte que disse que Trump estava tentando “salvar a América.” Ele estava furioso e queria saber por que eu me opunha ao salvador dos Estados Unidos. Mas a premissa do ouvinte estava completamente equivocada. Trump não é nosso salvador. Nas últimas cinco semanas, ele fez muitas coisas que ajudaram nossos inimigos comunistas — desde silenciar a Voz da América até fortalecer a posição econômica e militar da Rússia. Um ex-comandante da OTAN, o General Hodges, afirmou que a reorganização do Pentágono promovida por Trump resultará em uma redução de 30% no efetivo do Exército dos Estados Unidos. A situação é grave porque temos líderes que não sabem pensar estrategicamente e não possuem qualquer senso histórico.
Eric Voegelin explicou a situação da seguinte forma:
“Esses problemas vulgarianos oclocráticos não devem ser tomados de forma leviana; não se pode simplesmente ignorá-los. São problemas sérios, de vida ou morte, porque os vulgarianos criam e dominam o clima intelectual no qual a ascensão de figuras como Hitler se torna possível. Eu diria, portanto, que, no caso alemão, os destruidores da linguagem alemã nos níveis literário e jornalístico… foram os verdadeiros criminosos, culpados pelas atrocidades do Nacional-Socialismo — atrocidades que só foram possíveis quando o ambiente social já havia sido destruído pelos vulgarianos a ponto de permitir que uma pessoa verdadeiramente representativa do espírito vulgariano ascendesse ao poder.”
É por isso que Jesse Watters merece críticas. Seus comentários políticos são vulgares. Mas Watters não está sozinho. Ele é típico de sua espécie. Assim como Voegelin culpou os vulgarianos que dominaram o clima intelectual da Alemanha antes da ascensão de Hitler, a Fox News e a CNN são hoje igualmente culpadas. A esquerda e a direita neste país têm apoiado narrativas danosas das quais talvez os Estados Unidos jamais se recuperem. Uma rede bajula a direita, enquanto a outra bajula a esquerda. E o povo acredita. Como argumentou Josef Pieper em seu livro Abuso da Linguagem – Abuso do Poder, o uso desonesto da linguagem prevalece hoje por meio da adulação. Segundo Pieper, “O território mais genuíno da lisonja sofística… é o [entretenimento].” E entretenimento é no que nossos canais de notícias se transformaram. Pieper prossegue: “‘Sofístico’ implica uma pretensão aos mais altos padrões de forma e refinamento.” Uma vez convencido de seu próprio bom gosto e discernimento, o que poderá dissuadi-lo dessa visão autocomplacente e presunçosa do mundo, que se resume na expressão latina Mundus vult decipi?[vi] Pense em todas as noções lisonjeiras que foram propagadas, tanto por Biden quanto por Trump. Nenhum dos dois ousou alertar o povo americano sobre a ameaça de um bloco comunista renovado. Nenhum teve coragem de defender uma plena remilitarização nuclear dos Estados Unidos. Por quê? “A América voltará a ser grande,” diz Trump. “Vamos encerrar a guerra no Leste Europeu. Vamos construir um muro na fronteira e expulsar os ilegais.” O discurso de posse de Trump foi belíssimo. Estava repleto de lisonjas. A bandeira americana será fincada em Marte! E quanto à bandeira russa fincada no Polo Norte? Disso, é claro, não se diz uma palavra.
Nosso discurso político está repleto de perversões e vulgaridades. Somos continuamente manchados pelo que ouvimos. Onde estão nossos porta-vozes da verdade? A CNN há muito se tornou uma piada. Olhe para os rostos em voga na Fox News. Será que a esquerda ou a direita vêem as coisas como realmente são? Vivemos e agimos segundo a verdade? Somos nutridos pela verdade, ou sufocados por autocomplacência?
Nossa insanidade moral chegou gradualmente. A maioria mal percebeu. Um ponto de virada decisivo foi quando aceitamos o colapso da União Soviética como uma vitória. Pense por um momento: o que fizemos para assegurar essa “vitória” sobre Moscou? Ficamos estagnados na Coreia. Perdemos a Guerra do Vietnã – juntamente com Laos e Camboja. Não derrotamos o comunismo na África – em Angola e na Namíbia. Na verdade, acabamos perdendo também a África do Sul para os comunistas, assim como o Congo. E os comunistas não foram eliminados da Nicarágua. Veja quem governa aquele país hoje. E veja o Afeganistão! Em tais questões, sempre preferimos o autoengano. Preferimos acreditar, com Francis Fukuyama, que havíamos chegado ao “fim da história.” Gaste esse dividendo da paz, América. Gaste-o por trinta anos até acordar um dia com um dissuasor nuclear podre e sem dinheiro para construir um novo.
Temos sido desonestos, e este é o nosso destino. Nossas elites têm sido desonestas. Nossos educadores têm sido desonestos. Nossa mídia tem sido desonesta. Como alertou o falecido dissidente russo Vladimir Bukovsky, os comunistas do Leste Europeu nunca foram julgados por seus crimes. Não houve derrota final do sistema comunista em 1991. E aqui estamos, enfrentando um bloco comunista revivido em 2025. Os comunistas estão agora bem armados e infiltraram as instituições centrais da Europa e da América. Além disso, o Ocidente não possui o dinheiro nem a mão de obra qualificada para uma remilitarização imediata. Por mais difícil que seja, precisamos reconstruir nossa força de trabalho. Mas isso não está sendo discutido. Precisamos reconstruir nossas indústrias militares. Mas ninguém está dizendo isso.
Para aqueles que não compreendem por que isso aconteceu: fomos alertados há mais de quarenta anos. Fomos advertidos de que a liberalização soviética era uma farsa. Fomos alertados de que o desarmamento do Ocidente, em resposta à liberalização soviética, poderia se revelar fatal. O desertor da KGB Anatoliy Golitsyn, cujo livro Novas Mentiras no Lugar das Antigas foi publicado em 1984, previu todo o curso dos eventos futuros. Mas poucos lhe deram crédito, mesmo quando suas previsões se mostraram em grande parte corretas. Em vez de reconhecimento, Golitsyn foi ridicularizado. Foi caluniado como “mentalmente instável.” Ele e o ex-chefe do contra-espionagem da CIA, James Angleton, foram chamados de “alcoólatras.” E agora, Angleton está sendo responsabilizado pelo assassinato de Kennedy — com argumentos extremamente distorcidos e desonestos, difundidos pelas redes sociais. Estão lançando poeira nos olhos dos americanos. Quem está lançando essa poeira? Obviamente, os inimigos da América, que querem ver os americanos correndo em círculos atrás do próprio rabo.
Para aqueles que permanecem viciados em narrativas falsas, afirmemos o óbvio: Rússia e China são potências predatórias lideradas por criminosos políticos. Para entender o que esses criminosos desejam, é preciso estudar a história russa e chinesa. Devemos examinar os propagandistas da Federação Russa, como o assim chamado “filósofo” russo Alexander Dugin, que trabalha para os serviços especiais russos e recentemente tuitou: “Soros é [um] Trotsky liberal. Quem é Trump? [Ele é um] Stalin libertário.”
Dugin é incrivelmente astuto e criativo. Ele conta com muitas pessoas inteligentes ao seu redor, inclusive feiticeiros (acredite se quiser). Dugin escreveu dois ensaios sobre Aleister Crowley, o famoso ocultista britânico. Tudo isso é bastante esclarecedor — de um modo sombrio. A guerra psicológica da Rússia contra o Ocidente emprega inversões satânicas em todos os níveis. O bloco comunista, por assim dizer, passou a fabricar ideias para ideólogos pró-capitalistas; isto é, para estalinistas libertários, satanistas católicos, muçulmanos marxistas e hippies tradicionalistas. As redes de Dugin estão produzindo narrativas para comunistas e conservadores, nacionalistas e tradicionalistas religiosos. Com a dissonância cognitiva como arma, Dugin criou artifícios retóricos sedutores para atrair a direita ao apoio de algo que é — no fim das contas — uma revolução esquerdista revivida. A ideia é dividir o Ocidente em “globalistas,” “liberais” e “neoconservadores” malignos, que se opõem ao bom e nobre presidente Trump (e à classe trabalhadora americana). Segundo Dugin, uma guerra civil seria benéfica para o Reino Unido. Dugin cita Alex Jones dizendo: “Os americanos pediram uma revolução, e Trump está entregando!” Uma revolução? Ah, sim! Dugin cita Mike Benz dizendo que os Estados Unidos deveriam reduzir seu compromisso com a OTAN se líderes políticos pró-Rússia como Marine Le Pen continuarem sendo perseguidos politicamente em países como a França. E Dugin adora glorificar Elon Musk, Jack Posobiec e Laura Loomer. Dugin provavelmente achou engraçado, também, citar o tweet de Posobiec de 2 de abril: “Trump agora está desmontando a economia global e travando uma guerra contra os globalistas em nome do Trabalhador Americano.”
Em nome de quem? Está Jack ao lado daqueles que antes diziam: “Trabalhadores do mundo, uni-vos?” Desmantelar as estruturas econômicas do Ocidente é, evidentemente, vantajoso para os comunistas, que há muito defendem uma “revolução proletária.” Dugin escreveu: “A libertação da princesa Marine Le Pen pode ser o objetivo de uma cruzada eurasiática contra os monstros e pervertidos malignos da UE. [O] Estado Profundo é um dragão. Todo herói sonha encontrá-lo uma vez na vida. E matá-lo.”
Dugin também citou uma declaração feita pelo ministro da defesa da China em 2 de abril: “A China intervirá militarmente ao lado da Rússia a qualquer hora e em qualquer lugar se a OTAN entrar oficialmente em guerra contra a Federação Russa. Acreditamos que todos compreenderão esse princípio.” Em outro tweet, Dugin escreveu: “DUGIN DA RÚSSIA APOIA OS HOUTHIS DO IÊMEN.” Por quê? Porque eles são os antigos comunistas iemenitas disfarçados de islamistas. Como ele consegue manter a seriedade? “Os únicos muçulmanos verdadeiros são os houthis do Iêmen,” diz Dugin. “Todos os demais são ‘MINO’ (Muçulmanos Apenas de Nome). Os iemenitas lutam como leões contra um inimigo gigantesco. Sem medo nem hesitação. É incrível.”
Entre os discípulos de Dugin no Terceiro Mundo, corre a piada de que Dugin é agora o verdadeiro presidente da América, mesmo enquanto ele declara publicamente que “o Putinismo venceu nos Estados Unidos.” Dugin fala de uma “Nova Multipolaridade de Direita.” O que isso significa? Significa que Dugin também é fã da entrevista do juiz Napolitano com o coronel Douglas Macgregor, o porta-voz pró-Rússia que pergunta se os EUA vão “atacar o Irã por Netanyahu?”
No dia 1º de abril, Dugin explicou:
“Se nos pedirem, podemos tentar salvar a Europa da ditadura globalista. Se não pedirem, estão condenados. Lavaremos nossas mãos. A Europa morrerá. A Grande Europa de Lisboa a Vladivostok sob o glorioso governo de um czar russo. Vladimir Soloviev acreditava nisso. Ou o Anticristo dominará.”
A retórica é descarada, o filósofo zomba. Nosso navio de Estado está afundando. Alguns observadores acreditam que Trump está conduzindo a América a uma aliança com a Rússia que destruirá a Europa. Ouvi dizer que esse é o plano, qualquer que seja o discurso oficial em contrário. Trump e Putin são aliados naturais. Dugin explicou isso durante a seguinte troca com um jornalista da CNN:
CNN: Muitas pessoas no Ocidente acreditam, até temem, que o presidente Trump esteja ideológica e politicamente mais próximo de Vladimir Putin do que de seus aliados ocidentais. O que o senhor acha?
DUGIN: Sim, é isso mesmo. Eu concordo. Isso é óbvio. Isso é óbvio. Ele é muito mais conservador. Ele é a favor dos valores tradicionais. Ele é a favor do patriotismo, da nação; e eu defino isso como a ordem mundial das grandes potências. Putin e Trump coincidem na aceitação desse modelo, em vez do globalismo liberal.”
Estamos agora no período que o desertor da KGB, Anatoliy Golitsyn, chamou de “um punho cerrado.” O Ocidente tornou-se militarmente fraco e está vulnerável a movimentos militares russos e chineses. Dugin e outros agentes russos semearam tamanha confusão que quase todos perderam de vista essa realidade. Uma campanha de divisão e conquista foi possibilitada pelas políticas comerciais de Trump e sua postura diante da OTAN. O ensaio recente de Dugin na Arktos Journal tem por título: “A Retirada de Trump, A Guerra da Europa.” Curiosamente, trata-se das hesitações de Trump. Segundo Dugin, “Trump simplesmente falhou em compreender a essência do conflito e ainda não entende completamente quem está lutando, por quê e pelo quê.” Trump não pode trazer paz à Europa porque ele não entende absolutamente nada. Dugin argumenta:
“A guerra continua. Isso é evidente pela irritação de Trump, pela política agressiva da UE e pelas táticas terroristas de Zelensky. Também é claro pelas palavras de nosso presidente, que conclama o povo e a sociedade a não relaxarem. A guerra não acabou porque só pode terminar com nossa vitória — e, para isso, ainda há muito a fazer.”
A Rússia está mobilizada, e não irá recuar. Tudo também foi preparado para uma guerra mais ampla. É assim que a estratégia do “punho cerrado”, descrita por Golitsyn em 1984, deveria se desenvolver. O equilíbrio de poder já não está mais a favor da América. O Ocidente precisa compreender que não haverá paz. A guerra só poderá se ampliar. De fato, a China já está parcialmente mobilizada, junto com a Coreia do Norte. Enquanto isso, a Europa apenas agora começa a perceber o perigo que ameaça a todos.
Com 800 mil homens, a Ucrânia conseguiu resistir à agressão russa por três anos. Mas agora a Rússia está mobilizando plenamente seu potencial bélico. E a intenção deveria ser clara. A guerra não ficará limitada ao leste europeu. Se — e quando — a Rússia derrotar a Ucrânia, o exército ucraniano será incorporado ao russo, e a OTAN enfrentará quase 3 milhões de soldados russos. Talvez, quando as mobilizações estiverem concluídas, as forças armadas russas contem com 5 milhões de homens.
Em uma entrevista recente, Andrei Illarionov descreveu corretamente o problema. Disse aos ouvintes para esquecerem essa bobagem sobre o pequeno tamanho da economia russa. Atualmente, a Rússia supera todos os países da OTAN na produção de armamentos (incluindo os EUA) numa proporção de quatro para um. E isso sem contar com a Coreia do Norte e a China. Illarionov citou Pushkin ao explicar o dilema entre ouro e armas: “Estou pronto para comprar tudo, mas a palavra final pertence às armas.” Isso também é o que Maquiavel ensinou ao contradizer a afirmação de Cícero de que o ouro “é o nervo da guerra.” Não, disse Maquiavel, bons soldados são o nervo da guerra. Ou, se quisermos parafrasear o Caminho de Yan’an de Mao: Os capitalistas dizem que o poder vem do dinheiro, mas eu digo que o poder vem da ponta do fuzil. Eles podem ficar com todo o dinheiro — deixe-me com todas as armas. Então, apontarei minhas armas contra eles e terei todo o dinheiro e todas as armas.
Enquanto explicava essas verdades básicas, a apresentação cortês, porém cheia de desprezo, de Illarionov sustentava que os líderes da América são “crianças de jardim de infância.” Trump é tão ignorante e tolo, observou Illarionov, que nem sequer está seguindo a política de apaziguamento de Chamberlain. A política de Trump é muito pior do que o apaziguamento. “Para Trump, a Ucrânia é irrelevante,” disse Illarionov. “[A Ucrânia] deve ser entregue a Putin para atraí-lo a uma aliança com Trump.” Da mesma forma, o destino da Europa não tem qualquer importância para Trump. O acúmulo militar da China persuadiu Trump a adotar uma política desesperada de alinhar os Estados Unidos com o único país que poderia ajudá-lo a deter a China. No entanto, China e Rússia mantêm o que se chama de “parceria sem limites.” A política de Trump, afirmou Illarionov, é ignorante e incompetente. Trump e sua equipe são o tipo de gente que não lê, que não tem curiosidade intelectual. “Eles são do jardim de infância,” disse Illarionov. Ele zombou do enviado especial Witkoff por confundir as Nações Unidas com a Liga das Nações. “Isso é incompetência e ignorância,” repetiu Illarionov. “Não é difícil manipular pessoas assim.” E então explicou: “Vocês estão pensando que haverá paz, mas não haverá paz. A capitulação da Ucrânia… significa que a Ucrânia será subjugada, e então o Exército Ucraniano fará parte da máquina de guerra russa.”
Não há dúvida sobre o que virá em seguida. Estamos agora na fase final da estratégia de longo prazo do bloco comunista. E isso é mais do que uma estratégia de guerra, certamente. Fomos infiltrados não apenas por comunistas, mas pela rede de “tradicionalistas” e feiticeiros pós-comunistas de Dugin. Estes são os janízaros da Rússia em uma guerra de ideias filosóficas invertidas. Nisso, como em outras questões, os americanos permanecem no jardim de infância. Muito em breve, teremos de encarar a realidade. Devemos nos formar no jardim. Está na hora de a América vestir sua blusa de mulher adulta.

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