https://jrnyquist.blog/2021/04..../02/grand-strategy-p
Grande Estratégia, Parte V (1940–1941, Europa e África) (Jeffrey Nyquist - 02/04/2021)
A Alemanha... tem a capacidade de nos antecipar no desdobramento e lançamento de um ataque surpresa. Para evitar que isso aconteça ao mesmo tempo em que destruímos o Exército Alemão, considero necessário que, de forma alguma, entreguemos a iniciativa ao comando alemão. Devemos nos antecipar ao inimigo, desdobrando e atacando o Exército Alemão exatamente no momento em que este tiver alcançado a fase de desdobramento, mas ainda não tiver se organizado como uma frente...
— S. Timoshenko, Comissário da Defesa
— G. Zhukov, Chefe do Estado-Maior Geral
15 de maio de 1941
Hitler quebrou o Pacto de Não-Agressão Molotov-Ribbentrop em 22 de junho de 1941 com um ataque total contra a União Soviética. O Exército Vermelho não foi capaz de lançar o ataque preventivo contra os alemães, conforme solicitado no Memorando de 15 de maio de Timoshenko e Zhukov. Como o governo russo ainda retém documentos, não sabemos exatamente por que o Exército Vermelho não conseguiu executar o plano preferido. Sabemos apenas que o Exército Vermelho foi severamente derrotado na fronteira e que a Força Aérea Soviética foi massacrada.
Durante muitos anos, os historiadores acreditaram que Stalin perdeu o controle à medida que o desastre militar de junho de 1941 se desenrolava; que Stalin abandonou o Kremlin e começou a beber; que uma delegação de oficiais teve de implorar para que ele reassumisse seu posto. Após a queda da União Soviética, pesquisadores russos localizaram o calendário de atividades de Stalin e descobriram que ele foi trabalhar todos os dias após o ataque alemão. Assim, verifica-se que as memórias de Nikita Khrushchev foram intencionalmente enganosas — e prejudiciais a Stalin. Naturalmente, foi Khrushchev quem denunciou Stalin em seu não-tão-secreto discurso secreto de 25 de fevereiro de 1956. Também não deve surpreender que o relato de guerra do General Georgi Zhukov apresente Stalin como o tolo que “foi enganado por Hitler”. Afinal, Zhukov tinha motivos para ocultar seus erros, dado o fracasso do Memorando de 15 de maio. Como explicou o historiador do Ministério da Defesa russo Pavel Bobylev, Stalin estava “certo ao atribuir a culpa aos militares por não terem realizado em tempo os desdobramentos designados para os distritos militares ocidentais.”
Zhukov e Khrushchev não foram, de modo algum, os únicos falsificadores do registro histórico. Stalin construiu um enorme mito propagandístico que garantiria legitimidade ao governo soviético por décadas. Era tudo sobre derrotar o que Stalin chamava de “as hordas fascistas”. John Mosier apontou em seu livro Deathride: Hitler vs. Stalin, The Eastern Front, 1941–1945, que a maior conquista de Stalin não foi vencer a guerra, mas estabelecer com sucesso as interpretações predominantes sobre ela. Segundo Mosier, “O papel de Stalin [na guerra] era completamente improvável, mas também se ajustava à lenda que Stalin já havia criado. Além disso, como outras fabricações sobre o Estado soviético, o relato stalinista da guerra provou ser notavelmente durável, apesar de sua improbabilidade.” Mosier expôs quatro razões pelas quais o relato falso de Stalin sobre a guerra se tornou parte integrante da compreensão dos historiadores ocidentais:
(1) O relato de Stalin é claro e convincente;
(2) O relato de Stalin “ressoa com o idealismo do socialismo que as pessoas acham atraente”;
(3) O relato de Stalin é consistente com outros mitos soviéticos que foram amplamente disseminados no Ocidente;
(4) Os “fatos” de Stalin foram cuidadosamente manipulados para se ajustarem a uma narrativa mais ampla que a maioria dos observadores ocidentais não conseguia enxergar nem tinha motivos para desconfiar.
Após a morte de Stalin, Khrushchev e Zhukov apenas modificaram o mito stalinista, misturando-o com uma pitada de antistalinismo. Tal como está, as histórias oficiais soviéticas da guerra não são confiáveis. O professor Albert Weeks destacou que “as distorções introduzidas na historiografia soviética, inclusive na história militar, foram tão potentes — e convincentes — a ponto de enganar não apenas os cidadãos soviéticos, mas também observadores ocidentais, que... ainda se baseiam em interpretações soviéticas de eventos importantes.”
Pode-se, no contexto soviético, exagerar a observação de Napoleão sobre a história até transformá-la na seguinte paródia: “História é algo que não aconteceu, contada por pessoas que não estavam lá.” De fato, Gaston de Pawlowski fez exatamente isso ao escrever: “História militar não passa de um amontoado de ficções e lendas, apenas uma forma de invenção literária; a realidade conta pouco numa coisa dessas.” Na medida em que o homem moderno é iludido em tantas áreas do pensamento, vê-se que ele é especialmente iludido quando se trata de guerras e batalhas, pois estas são o domínio especial de grandes mentiras e grandes mentirosos.
Ainda hoje, historiadores ocidentais se apegam de forma acrítica aos relatos soviéticos da guerra. Livro após livro ainda sustenta a ideia de que Stalin foi surpreendido pelo ataque de Hitler. Isso faz parte da lenda que invoca a inocência de Stalin — retratando o ditador soviético como vítima de Hitler, em vez de seu parceiro na agressão. Devemos questionar, de fato, qual ditador acabou por vitimizar o outro. Em sua avançada velhice, Vyacheslav Molotov deu uma entrevista em que afirmou: “Não, Stalin via tudo com clareza. Stalin confiava em Hitler? Ele não confiava nem no próprio povo! ... Hitler enganou Stalin? Como resultado de tal engano Hitler teve de [atirar em si mesmo e] se envenenar, e Stalin se tornou o chefe de metade do mundo!” Quando desafiado quanto às perdas iniciais do campo de batalha, Molotov insistiu: “Em essência, estávamos em grande parte prontos para a guerra.”
Dois ex-oficiais soviéticos, o General Oleg Sarin e o Coronel Lev Dvoretsky, descreveram com agudeza o início da guerra entre os dois ditadores: “Sorrindo hipocritamente um para o outro e mantendo falsas aparências, [Hitler e Stalin] nutriam ideias diabólicas um em relação ao outro. Hitler preparava a ‘Operação Barbarossa’, a invasão da União Soviética, e Stalin preparava um ataque preventivo contra a Alemanha.”
Stalin e seus colegas mentiram sobre a guerra por várias razões. A União Soviética estava preparando uma força blindada de mais de 26.000 tanques com os quais pretendia invadir a Europa. Isso era algo que, retrospectivamente, os soviéticos precisavam esconder. Para entender o quão grande é esse número, basta observar que Hitler havia mobilizado apenas 3.500 tanques à época. Disso podemos inferir as intenções soviéticas. Dado o grau de seus preparativos bélicos, Stalin acreditava que Hitler estava condenado. Como mostram as declarações posteriores de Molotov, pouco importava realmente quem atacaria primeiro. Stalin calculava que venceria de qualquer forma.
O desastre de junho de 1941 não ocorreu porque Stalin foi “inocentemente” surpreendido, mas porque os generais soviéticos falharam em se organizar. As evidências hoje são esmagadoras. Stalin sabia dos planos de Hitler por meio de agentes secretos soviéticos e de aliados estrangeiros. Stalin recebeu relatórios de inteligência detalhados de Winston Churchill, cujos decifradores haviam quebrado a máquina Enigma dos alemães e estavam lendo comunicações militares alemãs em tempo real. A ideia de que Stalin não sabia do ataque iminente, e que teria simplesmente ignorado todos esses relatórios — com informações chegando de todos os lados — é risível. No entanto, historiadores convencionais acreditaram nesse mito como crianças acreditam em Papai Noel e no Coelhinho da Páscoa.
Naturalmente, foi conveniente para Stalin posar de inocente. É melhor parecer um crédulo confiável do que um manipulador astuto. Afinal, um estadista confiante é um cavalheiro de fino trato, ao passo que um agressor traiçoeiro é o próprio demônio encarnado. O perspicaz historiador militar J.F.C. Fuller, escrevendo em 1956, foi um dos primeiros historiadores ocidentais a ver através da farsa de Stalin. Fuller apontou para o trabalho do jornalista sueco Arvid Fredborg, então atuando em Berlim, que soube que a data original da operação Barbarossa era 12 de junho de 1941, “mas, devido à recusa dos húngaros em marchar contra a Rússia e por certos ajustes menores, foi adiada para o dia 22.” Fuller escreveu: “É improvável que isso tenha sido uma surpresa política para o Kremlin; mas que tenha sido uma surpresa tática é quase certo.”
Fuller tocou no cerne da verdade. O problema não era que Stalin desconhecia o plano de Hitler de invadir. O problema era que seus generais não sabiam a data exata da invasão, uma vez que os planos de Hitler mudaram; e isso introduziu um elemento de incerteza tática, à medida que Timoshenko e Zhukov posicionaram suas divisões em locais avançados e vulneráveis, tentando em vão executar o Memorando de 15 de maio. Aqui, o lado soviético enfrentava um problema mais profundo do que o simples mau timing: tratava-se do apodrecimento burocrático que tipicamente aflige regimes comunistas.
Para compreender a extensão dessa “putrefação comunista” no Exército Vermelho, basta considerar o que aconteceu quando os soviéticos tentaram blitzkrieg contra a Finlândia em 30 de novembro de 1939. Os finlandeses não dispunham sequer de um único canhão antitanque e estavam com escassez de munições de artilharia. Como poderia a Finlândia ter resistido a ataques soviéticos avassaladores com tanques e artilharia em massa? E, no entanto, graças à espantosa ineficiência do Exército Vermelho, os finlandeses aniquilaram diversas divisões soviéticas, incluindo divisões blindadas. Ficou célebre o uso de coquetéis “Molotov”, troncos de árvore e até pistolas para desabilitar tanques soviéticos. Atiravam no gelo sob as colunas motorizadas que cruzavam lagos congelados. Quando a infantaria soviética buscava proteção seguindo de perto os tanques durante um assalto, a artilharia finlandesa sobrepujava os tanques e aniquilava a infantaria em avanço. Um soldado finlandês comentou: “Eles são tantos e nós somos tão poucos. Onde vamos encontrar espaço para enterrá-los todos?” (Russos e finlandeses assinaram um acordo de paz em 12 de março de 1940, cujos bastidores estão envolvidos em intrigas escandinavas entre soviéticos, britânicos e franceses.)
Winston Churchill, atento observador dos assuntos militares, comentou os fracassos do Exército Vermelho na Finlândia: “Todos podem ver como o comunismo apodrece a alma de uma nação”, disse Churchill, “como ele a torna abjeta e faminta em tempos de paz, e revela sua baixeza e abominação em tempos de guerra.” Hitler também tirou uma lição do desempenho desastroso do Exército Vermelho contra a Finlândia. No início de 1941, recorreu a seus habituais epítetos raciais: “O russo em si é inferior. Seu exército não tem líderes.” Contudo, em uma reunião com seus conselheiros militares em 7 de janeiro de 1941, Hitler acrescentou uma de suas observações proféticas: “É verdade que as forças russas são um colosso de barro sem cabeça, mas quem sabe como elas se desenvolverão no futuro?” Ele via a possibilidade de que o desempenho inepto do Exército Vermelho na Guerra de Inverno pudesse, um dia, ser superado.
As Loucuras Africanas de Mussolini
Antes de abordarmos a invasão dos Bálcãs e da União Soviética por Hitler, é preciso relatar os eventos ocorridos na África. A “Dupla Dinâmica” de Hitler e Mussolini não era tão dinâmica assim — pelo menos no que dizia respeito a Mussolini. Quando os italianos entraram na guerra, em junho de 1940, o comandante britânico na África, General Wavell, dispunha de 36.000 homens (dos quais 9.000 estavam no Sudão, 5.500 no Quênia, 1.475 na Somalilândia e 27.000 na Palestina). Do outro lado da fronteira, na Líbia, os italianos tinham 215.000 soldados (e outros 200.000 na África Oriental Italiana). Em termos numéricos, os britânicos estavam em apuros. Mas a situação era ainda pior. O contingente aéreo de Wavell era pequeno e obsoleto. Ele dispunha de apenas uma divisão blindada, composta de duas brigadas parcialmente equipadas. Contudo, Wavell tinha uma vantagem: ele enfrentava o marechal Italo Balbo.
A Itália se tornou beligerante em 10 de junho de 1940. Em julho, as forças italianas da África Oriental invadiram partes do Sudão, do Quênia e da Somalilândia. As unidades aéreas de Balbo também bombardearam a fortaleza insular britânica de Malta, no Mediterrâneo. Após conquistar essas “vitórias chinesas”, escreveu J.F.C. Fuller, “[os italianos] passaram à sesta.” Na África do Norte, contudo, a sesta não foi tranquila.
O General Wavell decidiu atacar o exército “pesado” de Balbo na Líbia, no que viria a ser a “Primeira Campanha da Líbia”. A ideia de Wavell era assustar os italianos, fazendo-os acreditar que ele dispunha de um exército muito maior. O correspondente de guerra britânico Alan Morehead explicou: “essa pequena força à la Robin Hood, por não ter condições de resistir a qualquer avanço determinado das seis divisões italianas através da fronteira, fez o impensável e inesperado — atacou.” Quando os britânicos começaram a cercar os fortes italianos e a hostilizá-los, o marechal Balbo acreditou estar sendo atacado por cinco divisões blindadas britânicas, quando na verdade era apenas uma. Manteve seu exército trancado em fortificações e ligou para Roma pedindo ajuda. Balbo foi morto em Tobruk, em 28 de junho de 1940, quando seu avião foi abatido por fogo amigo. Foi então substituído pelo marechal Rudolfo Graziani, que, segundo Fuller, havia se destacado anteriormente na Guerra Ítalo-Abissínia como “um verdadeiro caracol”.
Com Mussolini respirando em seu cangote, o “caracol” italiano empurrou suas forças para além da fronteira egípcia, em setembro de 1940. Os britânicos, incapazes de resistir a uma força tão numerosa, recuaram. Em vez de continuar seu avanço rumo a Alexandria, Graziani passou o mês de outubro construindo fortes — “monumentos à sua derrota iminente”, nas palavras de Fuller. O posicionamento italiano era tão estúpido que o major-general R. N. O’Connor, agora no comando da reforçada Força do Deserto Ocidental britânica, atacou em 7 de dezembro de 1940, na chamada “Segunda Campanha da Líbia”. A Marinha britânica apoiou a operação com bombardeios costeiros. Devido à passividade de Graziani, seu grande exército foi destruído enquanto a força de O’Connor avançava mais de 800 quilômetros pelo deserto egípcio e líbio. A velocidade do avanço era o segredo de O’Connor. Como Graziani era um “caracol”, a maior parte de seu exército foi cercada, e os últimos remanescentes fugiram em pânico em direção a Trípoli.
Acima: Avanço da Força do Deserto Ocidental do General O’Connor.
Abaixo: Rommel parte de El Agheila e empurra os britânicos de volta para Tobruk.
Hitler agora tinha dois motivos para se irritar com Mussolini. Justo quando começava a planejar o ataque à União Soviética, teve que desviar atenção e recursos para salvar o exército italiano na Albânia e na Líbia. Para isso, enviou o General Erwin Rommel, acompanhado de uma divisão panzer e unidades agregadas, a Trípoli. Com a adição de mais uma divisão panzer e outra de infantaria motorizada, formou-se o famoso Afrika Korps. Os italianos logo se agruparam em torno de Rommel, que pôs fim ao avanço britânico. A guerra no deserto tornou-se então uma batalha de manobras e inteligência, na qual Rommel demonstrou superioridade, ganhando o apelido de “raposa do deserto.” Sua ousadia era acompanhada de um cavalheirismo antiquado, tornando esse teatro de guerra relativamente mais humano que a Frente Oriental. (Não abordaremos aqui as vitórias de Rommel nem sua eventual derrota em El Alamein, pois o teatro africano era secundário. Em termos estratégicos, Hitler não enviou Rommel para conquistar o Egito. Ele não se importava com o Egito. Enviou-o apenas para evitar o colapso da posição italiana na Líbia — e o abasteceu nessa medida.)
Enquanto isso, a “sesta” italiana na África Oriental terminou quando os britânicos lançaram ataques a partir do Quênia e do Sudão. Levando a batalha até a Abissínia no início de 1941, os britânicos expulsaram os italianos da região, encerrando sua presença na África Oriental.
Hitler invade os Bálcãs
Sabendo que um ataque alemão era inevitável, Stálin procurou ganhar tempo para preparar sua própria guerra. A invasão fracassada da Grécia por Mussolini forçou Hitler a intervir pessoalmente na primavera de 1941. Para isso, contudo, precisava garantir alianças com a Iugoslávia e a Bulgária — países que fazem fronteira com a Grécia. Stalin, ciente disso, tentou sabotar a diplomacia de Hitler nos Bálcãs. Hitler já havia garantido o apoio da Hungria, Romênia e Eslováquia. Se Stalin conseguisse impedir a adesão da Iugoslávia ou da Bulgária ao Eixo, ele dificultaria o resgate das tropas italianas encurraladas na Albânia pelos gregos. Assim, travou-se uma batalha diplomática intensa entre Moscou e Berlim por influência sobre a Bulgária — um país cujo povo amava a Rússia, mas cuja monarquia favorecia a Alemanha.
Ao mesmo tempo, o General Wavell, desde Alexandria, enviava tropas britânicas para a Grécia. Isso enfureceu Hitler, pois os britânicos estavam agora a distância de bombardeio dos campos petrolíferos romenos. Acelerando sua estratégia, Hitler encontrou-se com o rei da Bulgária e firmou um acordo permitindo o trânsito de tropas alemãs pelo território búlgaro rumo à Grécia. Em 25 de março de 1941, também conseguiu persuadir a Iugoslávia a alinhar-se com a Alemanha.
Porém, em 27 de março, oficiais militares iugoslavos deram um golpe, instaurando um novo governo que, em 6 de abril, assinou um “tratado de amizade” com Stálin. O Partido Comunista Iugoslavo organizou manifestações em várias cidades, demonstrando apoio ao que era, essencialmente, um golpe pró-Aliados, estimulado pelos britânicos. Durante a assinatura do tratado em Moscou, Stalin disse ao embaixador Gavrilovic: “Somos irmãos do mesmo sangue e da mesma religião. Nada pode separar nossos dois países. Espero que seu exército consiga deter os alemães por muito tempo...” Após a assinatura, Stalin apertou a mão de Gavrilovic firmemente e fez o sinal da cruz à moda ortodoxa. Um diplomata presente mal conseguiu conter o riso, tapando a boca com um lenço.
Enquanto Stalin enganava Gavrilovic, fingindo o sinal da cruz em Moscou, o 12ª Exército Alemão, que estava se posicionando via Hungria para atacar a Rússia por meio da Romênia, girou de rumo e invadiu a Sérvia e a Macedônia (então partes da Iugoslávia). Outras divisões alemãs partiram diretamente do território alemão, atravessando a Croácia até Belgrado. A Iugoslávia foi derrotada em poucos dias.
Simultaneamente, divisões alemãs já posicionadas na Bulgária invadiram a Grécia, flanqueando as forças gregas que combatiam os italianos na Albânia. O comando grego decidiu defender a Linha Metaxas, nos Montes Ródope orientais, com ajuda da Divisão da Nova Zelândia, das 6ª e 7ª divisões australianas, da 1ª brigada blindada britânica e de uma brigada polonesa. A linha aliada estava mal equilibrada, e quando os alemães manobraram em direção a um ponto fraco, os britânicos perceberam o perigo, abandonaram suas posições e recuaram para o Passo das Termópilas. Isso deixou o flanco direito das forças gregas desprotegido durante a retirada da Albânia, o que levou ao seu cerco e consequente rendição do Exército do Epiro em 21 de abril.
Os britânicos evacuaram suas tropas para a Ilha de Creta enquanto a Grécia caía nas mãos dos alemães. Com medo de que os britânicos instalassem bombardeiros de longo alcance em Creta para atingir os campos petrolíferos da Romênia, Hitler ordenou um gigantesco ataque aerotransportado à ilha, em maio de 1941. A operação envolveu tropas de planadores e paraquedistas, que, após combates intensos, forçaram a evacuação britânica de Creta.
Hitler ataca a União Soviética
Com a vitória nos Bálcãs, Hitler agora podia voltar sua atenção para Stalin. Alguns historiadores sugeriram que o ataque de Hitler à União Soviética foi adiado por sua conquista da Iugoslávia e da Grécia, mas isso não é verdade. Um pequeno grupo de panzer e o 12º Exército Alemão, que originalmente iriam atacar a União Soviética através da Romênia, foram detidos nos Bálcãs; fora isso, a Rússia e a Polônia oriental sofreram com fortes chuvas em maio, e as forças alemãs não teriam sido capazes de atacar mesmo que estivessem prontas. Esse clima também pode explicar o cronograma de mobilização atrasado do Exército Vermelho (e a catástrofe resultante).
O ataque alemão à União Soviética começou em 22 de junho de 1941, com divisões panzer perfurando as linhas soviéticas em várias áreas. Três grupos de exércitos alemães atacaram a União Soviética: (1) o Grupo de Exércitos Norte (com o Grupo Panzer 4) avançaria em direção a Riga e Leningrado; o Grupo de Exércitos Centro (com os Grupos Panzer 2 e 3) avançaria ao longo da linha Minsk-Smolensk-Moscou; (3) e o Grupo de Exércitos Sul (com o Grupo Panzer 1) avançaria em direção à área entre Tarnopol e Kiev. O Grupo de Exércitos Norte e o Centro romperam em profundidade, formando bolsões de exércitos soviéticos cercados. O Grupo de Exércitos Sul encontrou forte resistência e progrediu mais lentamente.
À medida que a campanha evoluía, os alemães terminaram o verão envolvendo os exércitos do distrito militar soviético de Kiev em um gigantesco ataque de pinça, com os panzers de Kleist pelo sul e os panzers de Guderian pelo norte, aprisionando 64 divisões soviéticas, das quais 665.000 homens foram feitos prisioneiros. Como resultado, os alemães capturaram a Ucrânia com suas cidades, riqueza mineral e agricultura. No norte, os alemães alcançaram os arredores de Leningrado.
Com a aproximação do outono, os alemães realocaram a maior parte de suas forças panzer (agora esgotadas) para um ataque final contra Moscou. Este último ataque teve um avanço tremendo no início, cercando ou destruindo várias centenas de milhares de tropas soviéticas. Quando Orel foi capturada pelos alemães, a população de Moscou entrou em pânico. Segundo o relato de John Mosier, “as ruas de Moscou explodiram em uma série de motins que dominaram a cidade por dias, enquanto cidadãos aterrorizados, incluindo funcionários e membros do partido, tentavam pegar o que pudessem e depois fugir. Lojas fecharam, o sistema de transporte parou, a Embaixada Britânica foi saqueada, e a polícia metropolitana perdeu o controle.” Por sorte, as chuvas de outono começaram e as colunas alemãs em avanço ficaram atoladas na lama. Uma vez que o solo congelou em meados de novembro, retomaram o ritmo à medida que duas poderosas pinças convergiam sobre Moscou. O governo soviético foi evacuado de Moscou para Kuybyshev. Os russos estavam sem reservas. Stalin encarregou L. Beria de encontrar um país amigo para o qual eles pudessem fugir. Stalin chegou até a enviar sondagens de paz para Hitler, que as ignorou. Uma última intriga foi bem-sucedida na esfera política, há muito preparada em Tóquio e Washington. Chamava-se “Operação Neve” e produziu excelentes resultados que levaram o Japão ao conflito com os Estados Unidos. Assim, antecipando o ataque japonês contra o Havaí e as Filipinas, Stalin ordenou que exércitos do Extremo Oriente soviético reforçassem Moscou – esvaziando suas defesas na Sibéria. Essas reservas frescas começaram a chegar a Moscou a tempo de reforçar a linha soviética.
Em 30 de novembro, a 2ª Divisão Panzer alcançou Himki, Ozeretskoye e Lobnya, a 10–11 quilômetros de Moscou. Stalin fez um gesto simbólico ao permanecer no Kremlin, esperando que seus exércitos siberianos resistissem. E então, em 5 de dezembro de 1941, a cidade de Moscou foi salva por um milagre. Uma frente fria desceu sobre a Rússia naquele dia, e as temperaturas caíram para 40 graus abaixo de zero. A gasolina não tratada virou pasta, os canhões alemães tornaram-se quebradiços sem óleo de arma invernal, e o Grupo de Exércitos Centro – que era invencível no dia anterior – transformou-se em uma multidão congelada que só queria fazer uma coisa: RETIRAR-SE. Em 7 de dezembro, os japoneses bombardearam Pearl Harbor e os Estados Unidos entraram na guerra.
Assim, o drama de 1941 terminou com uma reviravolta chocante do destino. Stalin havia aprisionado Hitler, politicamente. Ele o havia superado em astúcia. Mas Stalin não havia percebido a eficiência militar da Wehrmacht e a incompetência comparativa de seu próprio exército. Se não fosse pela súbita mudança no clima, Moscou provavelmente teria caído e a União Soviética quase certamente teria perdido a guerra. Agora, a guerra seria prolongada e Hitler teria apenas mais uma chance de destruir a União Soviética em 1942.
