O Partido Comunista Chinês se Prepara para a Guerra: Entrevista com Lude (JR Nyquist – 23/04/2025)

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O Partido Comunista Chinês se Prepara para a Guerra: Uma Entrevista com Lude (Jeffrey Nyquist – 23/04/2025)


“Dizemos, em primeiro lugar, [que devemos compreender] a devida ordenação para distinguir uma república de uma quadrilha de ladrões ou piratas. Com estes, não se deve ter nem relações, nem comércio, nem aliança. Sempre se teve o cuidado, nas repúblicas bem ordenadas, de não incluir chefes de salteadores e seus seguidores em quaisquer acordos em que se empenhe a honra, se trate da paz, se declare guerra, se concorde em alianças ofensivas ou defensivas, se definam fronteiras, ou se submetam à arbitragem as disputas entre príncipes e senhores soberanos…”
– Jean Bodin
A república bem ordenada não reconhece a legitimidade de chefes de salteadores. Segundo o teórico político francês Jean Bodin, não se negocia com criminosos e assassinos. Não se comercia com eles. Não se convive com eles. Enforca-se eles.
Os líderes chineses e russos são criminosos e assassinos. São chefes de salteadores com armas nucleares. Estaremos então obrigados a comerciar com eles? Não. Jamais se permita ser coagido por tais pessoas. Ladrões com ogivas nucleares devem ser ainda mais odiados e bloqueados com mais presteza, pois representam algo incompatível com a civilização. Nunca se deve transigir com esse tipo de gente.
Os antigos definiam uma república “como uma sociedade de homens reunidos para uma vida boa e feliz”, observou Bodin.
“Essa definição, contudo, peca tanto por excesso quanto por omissão. Ela omite os três elementos principais de uma república: a família, o poder soberano e aquilo que é de interesse comum; ao passo que o termo ‘feliz’, tal como era entendido, não é essencial. Se o fosse, a boa vida dependeria do vento sempre soprar favorável…”
Uma república bem ordenada mantém-se firme nos bons e maus tempos. Bodin nos diz que “a verdadeira felicidade é uma só, tanto para a república quanto para o indivíduo”. O bem reside “nas virtudes eletivas e contemplativas, pois assim determinaram os sábios. É consenso que o propósito último, e portanto o bem soberano, do indivíduo consiste na constante contemplação das coisas humanas, naturais e divinas.” É nessa direção que se encontra a vida feliz, por mais árduo que seja o caminho.
Na situação atual, a república americana não está tão bem ordenada quanto deveria. Nossos líderes estão confusos quanto a princípios básicos. Estão envolvidos em negócios comerciais com ladrões e piratas. Isso os corrompeu profundamente. Eles consideram os piores assassinos como “amigos”. Isso abriu caminho para uma crise sem precedentes, agora em desenvolvimento.
A situação muda rapidamente, dia após dia, à medida que o imprevisível e errático Donald Trump segue seu curso em zigue-zague. Em resposta, a liderança chinesa manifesta choque. Trump não é o gângster que todos esperavam. Não é tão fácil de manipular como presumiam. A seguir, minha entrevista mais recente com Lude:
Entrevista com Lude
JRN: Com o curso errático de Trump, o que pensam agora os analistas do PCC sobre a situação estratégica? Especialmente em relação às tarifas que Trump está impondo à China? Você tem informações a respeito? (Trump insinuou que reduziria essas tarifas em 23 de abril, mas isso é mais um exemplo de sua imprevisibilidade.)
LUDE: Três meses após Trump se tornar presidente, o PCC percebeu que ele está atacando diretamente o Partido Comunista. Xi Jinping percebeu que a relação é irreparável e que o conflito militar deve começar. Seus agentes próximos a Trump falharam, e ele percebe que deve planejar uma escalada. Economicamente, o PCC absolutamente não consegue resistir a esta guerra tarifária. Eles não podem vencê-la. A situação econômica da China é muito ruim. Eles estão extremamente temerosos. Estão se preparando para um desacoplamento dos Estados Unidos. Sabem que um bloqueio em larga escala virá em breve. Trump diz que a relação com a China é boa, mas isso é uma tática. Xi vê Trump se aproximando da Rússia e prejudicando a China. Ele percebe que Trump está caminhando nessa direção.
JRN: Considerando o que você me disse na última entrevista, sobre agentes do PCC próximos a Trump, e sabendo que Trump buscaria uma aliança com a Rússia, você disse que estavam confiantes da lealdade russa a Pequim. Os líderes do PCC estão planejando iniciar sua guerra no outono, quando a Rússia invadir os Estados Bálticos? Estamos caminhando para a Terceira Guerra Mundial?
LUDE: Primeiro, a Rússia há muito deseja tomar os Estados Bálticos, mas a resistência é muito forte e isso não é fácil porque os EUA e a OTAN traçaram uma linha vermelha firme. A situação não é a mesma com a Ucrânia. Embora a Rússia tenha essa ambição de tomar os países bálticos, a Ucrânia é a prioridade. O foco da Rússia será a Guerra na Ucrânia. A estratégia do “Nixon reverso” é vista como uma solução por Putin, que quer fingir que está do lado dos americanos. A Rússia não é estúpida a ponto de iniciar diretamente uma guerra contra a OTAN nos Estados Bálticos. Pressionar os Estados Bálticos garantiria o rearmamento europeu.
JRN: A maioria dos analistas achava que Putin não seria estúpido o suficiente para atacar a Ucrânia, mas ele a atacou. Agora dizem que ele não será estúpido o bastante para atacar os Estados Bálticos, mas ele está se preparando para isso. Neste momento, os russos conseguem reunir forças de ataque muito mais rápido do que a OTAN consegue organizar sua defesa. A Rússia tem uma vantagem agora — e perderá essa vantagem em três anos. Além disso, tenho fontes que acreditam que Trump pretende se retirar da OTAN. O PCC acredita que os EUA irão se retirar da OTAN?
LUDE: Eu confirmei, com antecedência, antes de a guerra na Ucrânia começar, que uma guerra na Ucrânia era possível. A Ucrânia é fundamentalmente diferente dos Estados Bálticos. Mesmo que a Rússia tivesse a intenção de lançar uma invasão, ela recuaria por cautela. A Rússia irá até a Polônia e isolará os Estados Bálticos, em vez de lançar um ataque em larga escala. Além disso, capturar os Estados Bálticos não é algo significativo agora. A direção estratégica mudou para o Leste. Os Estados Bálticos eram uma batalha crítica, mas agora a Rússia está interessada na região do Extremo Oriente. Essas áreas são de importância estratégica para a Rússia há mais de um século. É claro que Trump pode se retirar da OTAN. Mas a Rússia não tem capacidade de ameaçar como a China tem. A ambição da Rússia é apenas territorial. Isso não se compara com a ambição da China, que é desmontar a ordem mundial americana e o sistema de comércio global. Eles estão mirando na ordem mundial, e a China tem mais influência global.
JRN: Você está sugerindo que a China está se preparando para a guerra agora? Entendi corretamente?
LUDE: Xi compreende plenamente que, se a China quiser ser uma verdadeira grande potência, deve passar por uma guerra de grandes proporções. Os EUA e sua aliança precisam estar preparados psicologicamente, porque tal conflito agora é difícil de evitar. Xi está agora fazendo preparativos abrangentes para a guerra. Xi quer o controle do discurso internacional e assumir a liderança, e isso não pode ser alcançado apenas com guerra irrestrita. Isso não pode ser alcançado sem uma guerra importante. Não se pode passar de segunda maior potência econômica para a primeira sem uma guerra.
JRN: Certamente a China só pode ir à guerra com os EUA se a Rússia estiver ao seu lado.
LUDE: Xi definitivamente quer e precisa do apoio da Rússia; contudo, não parece que a Rússia fornecerá apoio contra os EUA diretamente, porque, historicamente, Rússia e China foram rivais. A aliança deles baseia-se em interesses temporários. Assim, eles não conseguem permanecer juntos como aliados sólidos por tempo indefinido.
JRN: Tenho informações que mostram um cenário diferente. Você está dizendo que a Rússia, na verdade, pretende se alinhar ao presidente Trump? Você havia dito anteriormente, em nossa última entrevista, que o PCC estava confiante na lealdade de Moscou. Como o PCC pode esperar travar uma guerra contra os EUA com a Rússia sendo desleal à China? O PCC seria derrotado. Se a China estiver sendo pressionada pelas tarifas dos EUA, então precisa da Rússia mais do que nunca.
LUDE: A Rússia sempre foi representada como uma águia de duas cabeças. Por que está olhando para o Oriente? O Japão, no passado, foi enganado pela União Soviética. O Japão lutou contra a China, e quando lançou o ataque a Pearl Harbor, os russos se voltaram contra ele mais tarde. Na Ásia existe essa mentalidade de “vitória espiritual”, de que os japoneses já venceram a Guerra Russo-Japonesa, então a águia de duas cabeças tende a mudar repetidamente. Xi acredita que Putin irá ajudá-lo. O resultado final será semelhante à experiência do Japão. O Japão assinou um pacto de não agressão com a União Soviética, e Moscou quebrou esse acordo em 1945. O Ocidente não sabe lidar com o problema da Ásia, e isso preocupa Moscou. O Ocidente se importa demais com a vida de seus soldados. Por isso a Rússia acredita que o Ocidente recuará e a China pode se tornar forte demais. O Japão quis um tratado de paz após Pearl Harbor, e esperava uma guerra curta. Sabemos que isso foi um erro de cálculo por parte de Tóquio. Sabemos que a China está cometendo esse mesmo erro de cálculo. Xi ficou muito constrangido quando Trump iniciou a guerra tarifária contra ele. Ele apelou à Coreia do Sul e ao Japão, mas ninguém se aliou a Xi contra as tarifas dos EUA. Inicialmente, a China ofereceu ao Japão e à Coreia uma frente comum contra a política comercial dos EUA, mas os japoneses e sul-coreanos recusaram unir-se à China.
JRN: Então, quando a China começará essa guerra?
LUDE: É difícil dizer. Depende de quão rápido os EUA se movam para se desvincular do PCC. No começo do ano, nossas informações indicavam que a China estava contratando novas pessoas. Com as tarifas, estão todos fechando. Se a pressão extrema continuar, as ondas de desemprego resultantes mudarão o foco para o público. Isso pode desencadear agitação. Xi gostaria de conduzir o povo chinês ao campo de batalha para aliviar a pressão. Se a pressão for menor, isso acontecerá mais lentamente. Eles ainda acreditam que há chance de paz se os democratas vencerem as eleições de meio de mandato. Se o Partido Democrata vencer o Congresso, Xi acredita que terá outra chance e conseguirá alívio.
JRN: Então, não há um plano para iniciar uma guerra até o final do ano?
LUDE: Xi Jinping está com muitas pessoas de olho nessas eleições de meio de mandato. Xi não pode decidir sobre a guerra sozinho. Existem muitos outros fatores que afetam a decisão de iniciar uma guerra. Uma faísca ou uma escalada inesperada pode desencadear uma guerra. Se os EUA impuserem restrições de navegação a navios chineses, as tensões ficarão muito altas. Qualquer coisa pode acontecer quando as tensões estão elevadas.
JRN: É quase certo que os democratas assumirão o controle do Congresso nas eleições de meio de mandato do próximo ano nos EUA.
LUDE: Na situação atual, Xi vê as eleições de meio de mandato como sua tábua de salvação. É assim que Xi enxerga. Ele está apenas reagindo à situação presente. Ele não tem domínio abrangente da situação. Ele percebe que sua influência sobre Washington diminuiu significativamente. Como as coisas se desenrolarão, de uma forma ou de outra, não está mais nas mãos de Xi. Isso ainda depende da estratégia da administração Trump.
JRN: E quanto à avaliação anterior do Trump feita pelos analistas do PCC? Eles achavam que sua imprevisibilidade não era um problema. Achavam que entendiam Trump. Mas Trump se mostrou insanamente errático. Eles ainda acham que Trump será enganado pela Rússia na Ucrânia?
LUDE: Xi está muito irritado porque acredita que foi enganado por seus agentes. Os agentes de Xi afirmavam que tinham controle sobre Trump. Ele vê Trump mirando diretamente na China, o que ele não esperava — e aconteceu. Xi gastou muito dinheiro, e esses agentes falharam. As tarifas de Trump são muito agressivas.
JRN: No momento, as tarifas foram suspensas por 90 dias. Isso está correto?
LUDE: A suspensão de 90 dias não se aplica à China. Há isenções para smartphones e certos itens de informática. Não concederam isenção para todos os produtos. Essa é uma estratégia ampla, que seleciona os itens que mais incomodam os EUA. Isso vai prejudicar o comércio chinês. As exceções de envio são feitas para mercadorias em trânsito. Isso não vai continuar. É para proteger as grandes marcas americanas. Acredito que, uma vez entregue esse lote de exceções, a tarifa será elevada.
JRN: Existe o risco de a economia chinesa entrar em colapso por causa desse choque?
LUDE: Agora que a economia chinesa está à beira do colapso, essa pressão pode levar a uma quebra completa. Na verdade, uma quebra completa é inevitável. Acredito que, uma vez que todos os acordos comerciais forem finalizados após os 90 dias, se o novo sistema comercial excluir a China, então a economia chinesa colapsará.
JRN: O PCC precisa ir à guerra se a economia chinesa começar a colapsar?
LUDE: Acredito que a guerra começará com um conflito de pequena escala. O objetivo principal seria usar o conflito local para lidar com o problema do desemprego. Não há sinais de que a China declararia guerra diretamente aos EUA, entretanto, se os EUA intervierem em um conflito local, a China declarará guerra.
JRN: Você havia afirmado anteriormente que a China queria que a próxima grande guerra fosse travada em solo americano, e que estava infiltrando 250 mil reservistas do EPL nos Estados Unidos. Esse plano ainda está em vigor? Ou foi abandonado por ser impraticável?
LUDE: Esse plano é contínuo e persistirá, haja guerra ou não, porque essa é a estratégia deles. Essa infiltração não irá parar. Isso os ajudará a sabotar a economia dos EUA.
JRN: Eles não poderiam vencer uma guerra por meio desse método de infiltração nos Estados Unidos?
LUDE: Se os EUA não prestarem atenção nem tomarem medidas de contenção, sim — mas a administração Trump iniciou uma operação de limpeza enérgica. A operação de infiltração foi prejudicada. As bases militares dos EUA reforçaram suas defesas, e a administração está bloqueando a rota de infiltração pelo sul. Assim, o poder de infiltração foi cortado.
JRN: Mas eles já não infiltraram milhares? Tiveram tanto tempo para isso. Eles já não têm todas as pessoas que precisam?
LUDE: A estratégia do PCC é chamada de “tática de onda humana”, que depende de infiltração contínua. Os chineses não agem como os russos. Os agentes russos são altamente qualificados. O PCC usa o número, e precisa de doze vezes mais pessoal do que os operadores russos. Você pode ver como isso funciona. Eles usam essas pessoas como parte de um movimento de massa. Só conseguem impacto por meio da quantidade.
JRN: Então a China ainda é fraca demais para travar uma guerra em solo americano?
LUDE: O PCC não se vê como fraco. O momento é que ainda não é o ideal. É necessário o melhor momento para iniciar a grande guerra. O PCC está usando pessoas comuns para travar uma “guerra popular”. O PCC vê os EUA como a parte mais fraca. Mas, assim que tiverem a vantagem, agirão. Isso evoluirá de um confronto direto no campo de batalha. Podem ocorrer eventos econômicos ou distúrbios sociais. É assim que eles veem a situação.
JRN: Há algo que os americanos deveriam saber e que ainda não mencionamos?
LUDE: As pessoas precisam estar cientes de que o PCC está preparando uma ofensiva, e os EUA estão sempre em posição defensiva. O prejuízo é sempre do lado americano. A abordagem ofensiva não serve apenas para guerras “quentes”. Não podemos nos dar ao luxo de esperar até que uma guerra aberta aconteça, pois estaremos em desvantagem. Os EUA precisam levar a guerra para o território do inimigo.
JRN: Isso foi, como sempre, interessante e informativo. Obrigado.